por Cláudia Santa Rosa

A pandemia tem acumulado desigualdades, especialmente no tocante à educação de crianças e jovens. Diante do longo período sem aulas presenciais, de Norte a Sul do país, o estrago só não foi maior porque uma parte dos estudantes teve/tem contato com os seus professores mediados por ferramentas digitais, sem desconsiderar meios analógicos adotados.

As circunstâncias ainda impõem exclusão digital severa e nem mesmo a pandemia foi capaz de agilizar, no Brasil, o fomento de políticas públicas que universalizassem o acesso. Mais da metade dos estudantes potiguares, por exemplo, ficou excluída do direito de continuar aprendendo, foi entregue à própria sorte. Inacessível ou de uso limitado, quem não tem um equipamento e alguma conectividade parou no tempo, acumulou déficits de aprendizagens maiores do que quem continuou a estudar.

Reféns do modelo educacional do Século XIX, mesmo as escolas brasileiras que atendem aos filhos das famílias das classes média e alta, salvo exceções, foram alvos de “memes” nas redes sociais porque tentaram reproduzir, no on-line, as aulas presenciais por vezes enfadonhas e, portanto, desconexas dos interesses de uma geração que já nasceu com, no mínimo, um smartphone entre os brinquedos.

Já faz algum tempo que o digital é uma realidade fora das unidades de ensino. Dessa experiência de inserção apressada, nos processos de ensino e aprendizagem, fica uma lição importante para as escolas que atendem a todos os estratos sociais: o uso da tecnologia digital precisa ser um caminho sem volta. Entretanto, para ser útil ao ensino, estudantes e professores precisam compreender, por exemplo, que o conceito de ensino híbrido é anterior à pandemia. Convenhamos, o simples ato de estudar de casa ou em casa enquanto outros estão na escola, em tempos de restrições no convívio social, não é suficiente para caracterizar como ensino híbrido.

Não há ensino híbrido sem mudança de postura quanto à forma do professor ensinar e do estudante aprender. Requer um investimento na autonomia que impulsiona o aprendente à pesquisa, antecipando-se ao estudo dos temas a serem, posteriormente, abordados pelos professores. Nesse sentido, a tecnologia digital se configura como importante aliada da escola.

Independente de estarmos ou não em tempos de pandemia, quando o estudante dispõe de equipamento e conectividade, tem acesso a uma “sala de aula” durante as 24 horas do dia, de domingo a domingo, o que enseja roteiros de estudos com a organização de uma rota, orientada pelos professores, justamente porque não é todo conteúdo disponível que vale e a docência continua a ser fundamental.

O digital na escola pública aponta à necessidade de atualização de programas que foram estruturados em formatos que, no passado, já foram magistrais. É o caso do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) que fez do Brasil (Governo Federal) o maior comprador de livros impressos do mundo. Não basta, agora, revitalizar o PNLD com a inserção de e-books porque foi a exclusão digital da maioria dos estudantes que escancarou o tamanho do nosso atraso, a apatia e pobreza criativa dos que conduzem as políticas educacionais. Urge que se diminua os impressos e se coloque um tablet ou objeto semelhante nas mãos de cada estudante com as condições de conectividade em casa. Essa é a questão que permanece em aberto e que, resolvida, também ampliaria o tempo de estudos diários.

É esperado, portanto, que os avanços educacionais aconteçam, no pós-pandemia, com a mesma celeridade que o vírus mortal provocou o fechamento dos prédios escolares para as aulas, em alguns casos, por dois anos letivos.

Revista Premiere RN, ano 1, Nº 10, Novembro de 2021.

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