Vila das Aves, arredores da Cidade do Porto, Portugal
03.10.2005, hoje é segunda-feira

Nuno, garoto de 9 anos, nos conduziu pela Escola, explicando cuidadosamente, como acontece o trabalho em cada espaço e as informações contidas nos murais. Já estavam disponíveis as orientações para a eleição da Mesa de Assembleia. De fato as instalações da Escola impõem algumas limitações: são quatro espaços para o trabalho dos alunos, metade para o Núcleo de Iniciação (no momento há crianças que estão do 1° ao 5° ano escolar) e a outra metade para o Núcleo de Consolidação (no momento há crianças e adolescentes que estão do 3° ao 10° ano escolar). O Núcleo de Aprofundamento (há adolescentes que estão do 7° ao 12° ano escolar) funciona no distrito de Sezim, distante cerca de 15km de Vila das Aves e próximo a cidade de Guimarães, primeira capital de Portugal. Todas as manhãs um ônibus para em frente a Escola para buscar os adolescentes, retornando no final da tarde. Fiquei sabendo que lá no anexo em Sezim o trabalho segue a mesma filosofia e prática do Projeto, o que irei conhecer em breve.

Há um refeitório, que não acomoda todos de uma única vez e por essa razão para os mais novos o almoço começa às 12h30 e para os maiores pelas 12h45. A pequena sala de apoio aos serviços de fotocópias tem acesso pelo refeitório, assim como o banheiro que serve aos adultos e a cozinha. No refeitório também ficam vários armários com espaços fechados para cada Orientador Educativo guardar os seus objetos pessoais. A parte administrativa e a secretaria também funcionam em duas pequenas salas interligadas. Num dos corredores, fixados na parede, estão os cabides com os nomes de cada aluno. Neles são deixados os casacos, guarda-chuvas e sacolas. O pátio é relativamente amplo e em um dos lados há uma quadra descoberta.

Ao final da visita, em agradecimento, ofereci à Escola da Ponte os números 1 e 3 dos Cds Cantigas do Folclore Brasileiro, produzido e distribuído pela Revista Nova Escola, repassando-os ao Nuno. Na recepção o Coordenador do Projeto já nos aguardava para uma conversa, disponível a complementar informações, enquanto o Nuno voltou para as suas atividades, tendo chamado a atenção pela enorme desembaraço, capacidade de expressão, de uso da palavra, aliado ao fato de ter demonstrado vasto conhecimento sobre o Projeto da Escola.

[…]

Na parte da tarde preferi voltar para o espaço que acompanhei as atividades na primeira parte da manhã. Entendo que a melhor maneira de compreender o funcionamento do trabalho e a utilização dos dispositivos pedagógicos da Escola é permanecer por um tempo, de pelo menos uma semana, acompanhando o trabalho em cada espaço. Continuei observando e, desta feita, especialmente, o conteúdo dos murais. Num deles a Lista dos Direitos e Deveres dos Alunos e a Lista dos Direitos e Deveres dos Visitantes, em outro mural as orientações para as Eleições da Mesa de Assembléia 2005/2006, em outro o título: “Os Nossos Amigos”, continha um desenho de cada criança que escolheu um amigo, desenhou o seu rosto e escreveu um pequeno texto, por exemplo: “O meu amigo é o R. e gosto muito dele, porque ele é muito amigo. O meu amigo chama-se R.”

Passei a circular entre as mesas, observando as crianças a trabalharem. Era possível sentir o quanto encaravam o trabalho com responsabilidade, mas prefiro observar um pouco mais para poder discorrer melhor sobre esse tópico. Tive a oportunidade de dar uma olhada no Plano da Quinzena de uma das Crianças, fundamental para a compreensão do Plano do Dia. Correspondia a quinzena de 22/092005 a 05/10/2005 e era o de n° 20. Fiquei me questionando como seria essa numeração, se o ano escolar tinha começado em meados do mês de setembro. Perguntei para uma das professoras do espaço, que me respondeu que o de número 01 é o primeiro do mês de janeiro, pois consideram o ano civil, de janeiro a dezembro de cada ano. Estava explicado. Para a organização do Plano da Quinzena um formulário próprio de uma página, frente e verso. Contem informações, como: nome da criança; grupo (nomes das crianças do grupo que faz parte); o nosso projeto é…; o que eu quero aprender; as minhas tarefas neste projeto são…; sugestões a apresentar na assembléia; o meu grupo de responsabilidade é…; as minhas tarefas da responsabilidade e mais todo um roteiro dedicado à avaliação.

O dia terminou e eu estava exausta, mas satisfeita. Um outro diferencial do Projeto chamou a minha atenção: não há mesa e tampouco cadeira para os professores sentarem nos espaços de trabalho. Eles ficam durante as cinco horas e meia de atividades, circulando entre os grupos, mediando, orientando, corrigindo os trabalhos das crianças. Algo completamente diferente das práticas das escolas brasileiras. Pensei: é da junção de pequenos e grandes detalhes que resulta a diferença da Escola da Ponte, sendo impossível perceber sem uma análise cuidadosa e demorada.

2 comentários em “Escola da Ponte: visita guiada por crianças (Final)

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