Numa escola cidadã, a tradicional referência à Reunião de Pais e Mestres deve ser entendida como contemplados outros responsáveis pelo êxito dos processos de ensino e aprendizagem: os estudantes e todos os profissionais que atuam na escola, os educadores, todos os envolvidos na relação educativa.
A reunião numa escola que tem um projeto voltado para a cidadania, até inconscientemente, considera pedagogias libertadoras, como a concebida por pedagogos com o brilhantismo do francês, Cèlestin Freinet (1896-1966), haja visto esses encontros serem uma prática que requer opção teórico-metodológica. Porém, o próprio nome já assinala um processo diferente do habitual, ou seja, na escola cidadã a reunião não deve ser apenas de pais e mestres. Os estudantes têm uma participação fundamental na comunicação das suas produções e aprendizagens.
Sem apresentar nenhum modelo mais sistematizado, embora tratando de deixar claro o quanto é necessária a parceria família-escola, Freinet chama a atenção: “não forcem os pais, porque a escola nunca poderá modernizar-se se não beneficiar-se da sua compreensão.” Propõe que a escola crie situações em que os pais e as mães possam constatar o prazer e o sucesso dos filhos, onde o trabalho tenha lugar de destaque.
Dessas orientações, é possível pensar numa práxis carregada de originalidade e de alcance pedagógico por demais relevante: os encontros são momentos de interações entre familiares, estudantes e educadores. A proposta é que possa ocorrer num dia letivo e no turno de aula de cada turma. É planejada previamente, pelos docentes e discentes que definem a programação e quem serão os responsáveis pelos diferentes momentos.
O tempo de duas horas é dividido em duas partes: na primeira os estudantes participam ativamente, expondo as suas produções e, em seguida, cada um coloca-se ao lado do respectivo membro da família, quando apresenta o seu caderno de registros/mapas e relatórios avaliativos, onde encontram-se as observações dos educadores e do próprio aluno. Na segunda parte da reunião é opcional as presenças dos estudantes, pois destina-se para que os familiares presentes tirem dúvidas com os educadores sobre questões gerais a respeito do trabalho desenvolvido no período. Este momento é realizado nas salas de aula, com os educadores e, para o caso de turmas a partir do 6º ano, cada turma é assumida por docente-coordenador, pela dificuldade de todos os doentes estarem presentes.
Esta proposta de reunião reforça a importância de um trabalho integrado entre toda a equipe docente, pois os estudantes apresentam trabalhos ligados às diversas disciplinas. Os familiares questionam sobre o trabalho desenvolvido no período e todos os educadores precisam conhecer a vida do grupo para além do que ocorre nas suas aulas. Cabe aos coordenadores ficarem atentos às falas dos estudantes durante as Assembleias, aos textos do Jornal de Parede/Diário de Turma, aos Planos de Trabalho Coletivo, aos registros feitos nos materiais de documentação e, fundamentalmente, através dos demais educadores, acompanhando o andamento do planejamento e a sua execução no cotidiano.
As questões individuais ou que sejam específicas de uma disciplina, são discutidas em pequenas reuniões agendadas para esse fim. Evita-se o compartilhar de problemas e dificuldades localizadas, para que não gerem constrangimentos durante as reuniões e afaste as famílias da escola. Para atrai-las, são organizados: “em sua honra, exposições dos vossos trabalhos [dos estudantes] nas quais eles possam ver os filhos compor, pintar, desenhar, ter uma reunião da cooperativa ou fazer uma conferência” , destaca Freinet num dos seus livros. No momento coletivo são realçados os aspectos positivos vivenciados no período.
Quando os estudantes preferem não participar da segunda parte da reunião, devem se ocupar de outras atividades dos seus Planos de Trabalho Individuais, realizando-as num outro espaço da escola. Também podem aproveitar as presenças das famílias na escola, para fazerem o que sugere Freinet: “Preparem tômbolas com objectos para vender: desenhos, impressos, jornais, trabalhos de verga, objectos de cerâmica.”
Perceber as aprendizagens, a criatividade, os avanços do filho e a dinamicidade da escola, é o que dará a segurança aos seus familiares e a certeza de terem optado por uma escola que atende às expectativas de propiciar uma formação integral. A escola cidadã não deve esperar seduzir os pais e mães, apelando para as atividades pontuais, centradas nos meios e não nos fins, basta que pratique pedagogias como a de Freinet, que coloca em cena o cidadão, que recorre à riqueza das orientações das propostas de educação democrática, para que atinja o bom funcionamento cooperativo da sala de aula, para a construção, comunicação e documentação dos conhecimentos e, em consequência, as famílias localizarão todo o seu valor pedagógico.
Além desta modalidade de Reunião, ainda é preciso valorizar e organizar a Escola de Pais e Mães, com encontros bimensais que alternam-se com as Reuniões de Pais, Mães, Estudantes e Educadores. É um dia em que, por algumas horas da noite ou em um outro dia que não careça suspender as aulas, os pais discutem com a escola temas de interesse para uma melhor educação dos filhos. Com esses espaços para o diálogo, espera-se atenuar desencontros de orientações entre família e escola, afinando os discursos. São momentos nos quais a Equipe da Escola situa as famílias sobre a sua práxis pedagógica, espelhando-se na proposta de Conselho aos Pais, organizada por Freinet.
Artigo originalmente publicado em janeiro de 20126.