O seminário “Estratégias para Reduzir o Abandono Escolar no Ensino Médio”, realizado na Cidade do México, nos últimos dias 21 e 22, foi uma oportunidade valiosa de tomarmos contato com experiências implementadas em países ou cidades cujas estatísticas não se distanciam da realidade do Brasil.

Resultado de uma parceria entre a Secretaria de Educação Pública do México e o Banco Mundial, o Seminário reuniu representantes de vários países da América Latina, além de Chicago, a populosa cidade americana.

Do Brasil, me juntei, pelo Rio Grande do Norte, aos representantes das secretarias de educação dos estados de Sergipe e Piauí. Iniciados os trabalhos, não demorou a se instalar um processo pessoal de reflexão, na linha de avaliar nossas políticas educacionais, no sentido de vislumbrar melhorias.

Entre os dados apresentados, nos pareceu relevante registrar que os estudos indicam que o maior índice de abandono escolar ocorre no 1º ano do ensino médio e, curiosamente, nos sessenta primeiros dias. Podemos inferir, portanto, que são determinantes a qualidade dos anos anteriores da vida escolar do jovem, a sua formação acadêmica ao longo do ensino fundamental, além, é claro, das condições da escola quanto às dimensões pedagógicas, curriculares, tecnológicas, de infraestrutura e recursos humanos.

Com entusiasmo, o Governo Mexicano anunciou que iniciativas mais enérgicas de combate ao abandono escolar, lançadas em 2012, fizeram cair em três anos o que antes levaram mais de duas décadas. Atualmente a taxa é de 12,5%, muito semelhante a do RN (12,3%). Lá, toda política está no âmbito do “Movimento contra o abandono escolar”, que integra ações de prevenção pela escola, família e pelo estudante.

Apoiados na estatística que afirma que 70% dos que abandonam mais tarde avaliam como tendo sido uma decisão errada, o Movimento atua para combater as principais causas do abandono: indisciplina, reprovação e falta de assistência. A política educacional parte do princípio que o abandono pode ser evitável e que há diversas causas dentro da escola. Logo, é necessário conhecer o fenômeno para poder preveni-lo.
O “Movimento contra o abandono escolar” aposta: na liderança dos gestores das escolas e, sendo assim, investe na formação dos mesmos para que se apropriem de ferramentas e boas práticas; no envolvimento da comunidade escolar; no acompanhamento do desempenho acadêmico dos jovens em situação de risco, por meio de um Comitê que orienta os jovens para o fortalecimento das suas habilidades emocionais (autoconhecimento, como se relacionam, como tomam decisões) e, quando imprescindível, ofertam bolsas – financiadas por duas instituições e pelo orçamento público – para que se mantenham na escola e tenham atendidas as necessidades mais emergenciais.

Tal política contra o abandono escolar de fato é tributária da autonomia da unidade de ensino e do profissionalismo e competência dos gestores das escolas, inúmeras vezes mencionados pelos palestrantes. O entendimento é de que se enfrenta o abandono escolar desde a escola e a esta conferindo autonomia para atuar, considerando o monitoramento sistemático da frequência escolar, as metas por escola, as tutorias dos estudantes, orientação aos jovens para construírem os seus projetos de vida, melhorar a relação com os familiares e desenvolverem habilidades sócio emocionais para a tomada de decisões mais assertivas.

Melhorar as habilidades sócio emocionais como estratégia para reduzir o abandono escolar, envolve docentes selecionados e capacitados por psicólogos. A compreensão é de que professores não dispõem de ferramentas para trabalhar com métodos terapêuticos e há facetas do abandono decorrentes da violência, consequência de questões que apenas pedagogos não dão conta de resolver.

Curiosa, diante da expectativa conferida ao diretor da escola, que tem acesso a um fundo anual de 10 mil dólares para uma ação de prevenção ao abandono, indaguei como se dava o processo de escolha dos mesmos. Em resposta, fomos todos informados que, há dois anos, foi realizado um concurso público para seleção desses profissionais, foram definidas as competências do diretor da escola e concebido um programa de atualização e profissionalização dos mesmos. Daqui a dois anos a primeira geração será avaliada de forma mais aprofundada, embora já ocorra continuamente, à luz das metas das respectivas escolas.

Acrescenta-se, que, todas as iniciativas têm o foco nas políticas de prevenção, por considerarem mais eficientes. É o caso do trabalho com a matemática, componente curricular que, diariamente, os estudantes têm uma hora a mais de complementação para atenuar dificuldades.

Não menos importante é o trabalho de redução da violência implementado nas escolas de Chicago, na linha da Terapia Ocupacional Cognitiva, que conta com o trabalho técnico de uma organização não-governamental, parceira do poder público.

Quando questionados sobre o custo de um programa de tamanha envergadura, um Mexicano respondeu: “É pagar pelos jovens ou pelo não investimento neles.”

Texto publicado originalmente em junho de 2016.

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